O primeiro trecho do novo Cais de Outeirinhos – única obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)-Copa no Porto de Santos – ainda não foi inaugurado, mas já deverá passar por uma adequação. Isto porque cerca de 40 metros do empreendimento precisarão ser destruídos para a passagem do túnel submerso que ligará as cidades de Santos e Guarujá.

O projeto para o Cais de Outeirinhos – elaborado em 2011, dois anos antes da definição do traçado do túnel, que ocorreu no semestre passado – prevê ampliar e otimizar a capacidade do complexo marítimo para receber navios de cruzeiro. O cais nessa área, nas proximidades do Terminal de Passageiros Giusfredo Santini, será alinhado com os demais trechos portuários e ampliado. Dos atuais 630 metros, ele passará a ter quase o dobro, 1.320 metros. Com o serviço, será possível a atracação simultânea de seis embarcações turísticas no local.

Hoje, podem parar apenas três navios, que encontram pontos com 4,5 e 7,5 metros de profundidade. Os novos berços terão 15 metros de fundura. No total, serão aplicados R$ 267,2 milhões na obra, que é o maior investimento portuário previsto no PAC-Copa.

Os primeiros 512 metros do novo cais deverão ser inaugurados no próximo dia 7, quando chegará o navio MSC Divina, que trará passageiros que assistirão aos jogos da Copa do Mundo no País. Foram necessários quase dois anos (22 meses) para a conclusão da primeira fase do empreendimento.

Mas, a partir do mês seguinte, quando está prevista a assinatura do contrato das obras do túnel submerso, a construção portuária será parcialmente destruída, de acordo com o diretor-presidente da Dersa (responsável pela implantação da ligação entre Santos e Guarujá), Laurence Casagrande Lourenço. O trecho de 40 metros a ser demolido fica na região do Cais da Mortona, nas proximidades da Capitania dos Portos de São Paulo (CPSP). Tanto uma parcela do píer como a estrutura submersa dessa parte terão de ser retiradas. Segundo Laurence, a intervenção estava prevista no projeto do túnel.

Para Angelino Caputo, diretor-presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), a medida trará prejuízos operacionais ao cais santista durante o período da obra. O assunto será debatido nesta semana em uma reunião entre representantes da Autoridade Portuária e da Dersa.

“Digamos que o túnel seja na posição que é (segundo o projeto). Vai cortar perpendicularmente a Perimetral, a ferrovia e a pista interna (do Porto). De certa forma, esse corte interrompe o tráfego de tudo que vai até o Corredor de Exportações. Se conseguirem fazer um desvio dessas vias, mantendo o Porto funcionando durante a obra, então está resolvido”, pondera Caputo.

O presidente da Docas destaca que não é contra a ligação entre as cidades. “Estamos apenas alertando sobre dois aspectos: a fundação e a necessidade de cortes (no novo cais). Na fase de cortes, o trecho (do Cais de Outeirinhos) que sobra não fica operacional durante esse tempo. Não vamos conseguir atracar navio porque não terá acesso”, explicou.

Destruição
De acordo com o projeto do túnel, ele passará por baixo da nova estrutura portuária. Mas, para que isso aconteça, será necessário retirar estacas que estão a 60 metros de profundidade.

“O cais tem um sistema de sustentação de estacas e pilares. E a distância entre eles não é suficiente para passar o túnel – mais largo do que os vãos entre os pilares do cais. Vamos ter que fazer um corte de cerca de 40 metros de largura desse cais, tirar o tabuleiro, que é a prancha de concreto em cima do cais. Iremos tirar esses pilares e fazer uma ponte com um vão de 40 metros. Nada complexo. É uma solução muito simples. Uma ponte com um vão de 40 metros é uma pontinha”, afirmou o diretor-presidente da Dersa, Laurence Casagrande Lourenço.

O executivo assegura que, após a instalação do túnel, o cais ficará operacional e sua estrutura não será prejudicada. Além disso, o berço de atracação permanecerá com o mesmo calado e os navios poderão fazer os mesmos esforços de atracação.

Envio de Propostas
Apesar das explicações de Lourenço, a Codesp encaminhou à Dersa uma proposta com uma alternativa de traçado para o túnel, “olhando egoisticamente a questão do Porto”, de acordo com Angelino Caputo. Nela, a ligação submersa sairia da Rodovia Anchieta e passaria por baixo do Cais do Saboó, atravessando o canal de navegação e passando ao lado da Ilha Barnabé. O fim do empreendimento seria na Rodovia Cônego Domênico Rangoni.

Questionado por A Tribuna, o presidente da Dersa informou que recebeu apenas duas propostas da Docas. Na primeira, o túnel passaria sob o Terminal de Passageiros Giusfredo Santini e, na segunda, sob o Canal 4, entre a CPSP e o terminal da Citrosuco.

Segundo Laurence, as duas propostas são inviáveis e a Codesp já foi informada sobre a negativa. As ideias foram descartadas pois demandariam a interrupção de operações em terminais e um maior número de desapropriações, além de intervenções nos canais, tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat).

“A obra teria muito mais impacto nas outras duas alternativas do que na alternativa proposta. E ela não prevê a inviabilização do cais. Ela prevê uma adaptação. Nós vamos ter que fazer a remoção de algumas estacas colocadas ali. Faz o portal e devolve o cais operando normalmente. Você faz uma adequação estrutural no cais e ele volta a operar normalmente”, explicou o presidente da Dersa.