Carta deixada por Líder dos Black Blocs acusa empresas de Joinville de praticar crime ambiental
Três meses antes de morrer, o secretário geral da Defensoria Social Leonardo Aguiar Morelli, 53 anos, apontado como um dos líderes do Black Blocs no país, esteve em Joinville e deixou uma carta nas mãos de um amigo que tinha na cidade.
— Guarda para você e só pública se alguma coisa me acontecer — teria dito ele ao jornalista Altamir Andrade.
Morelli sofria de graves problemas de saúde - tinha câncer no cérebro —
e andava preocupado com o que afirmava ser "perseguições". Ele também
estava brigando na Justiça com uma grande empresa da cidade por
denúncias que vinha fazendo a respeito de contaminações ambientais.
Na carta, publicada no blog de Altamir Andrade na última quarta-feira,
Morelli acusa duas fundições de Joinville — a Tupy e a Schulz — de
disponibilizar areia contaminada para a produção de concreto, saneamento
básico e pavimentação. As empresas Schulz e Tupy, de Joinville, citadas em uma carta, afirmaram seguir as legislações existentes.
Por meio de nota, a Tupy ressaltou que “todas as suas operações e uso
de areia descartada de fundição seguem os padrões e determinações dos
órgãos ambientais competentes.” Leia a íntegra da carta deixada por Morelli O Estado Brasileiro é cúmplice de crimes continuados de violação de
direitos fundamentais do povo. As vítimas, predominantemente de
populações pobres, logo são esquecidas quando as sensacionalistas
reportagens de apologia da tragédia começam a esvair-se. Joinville, SC, é
um dos municípios brasileiros que há décadas suas terras vêm sendo
contaminadas com o descarte criminoso de areias fenólicas de fundições,
principalmente da Tupy e da Schulz. Agora, a fundição Tupy está me
processando por causa das denúncias que temos feito, principalmente
através do jornal O Vizinho, que também tem sido vítima da empresa.
No dia que estou em Joinville para a primeira audiência no Fórum da
ação da Tupy contra mim, o Consema pública lei permitindo que as areias
de fundição sejam usadas para obras de saneamento básico, pavimentação e
produção de artefatos de cimento. Se no passado as fundições de
Joinville doavam areias contaminadas à população e assim livraram-se de
milhares de toneladas de passivo ambiental que contaminam quase toda a
região, agora, com aval do Estado, estas areias continuarão a ser
espalhadas por toda Santa Catarina. Mais um crime do Estado Catarinense
financiado pela poderosa Tupy, considerando que uma empregada da
empresa, a maior interessada em se livrar de passivo ambiental, foi quem
liderou o estudo e seus resultados para o Consema. Essa resolução é
inconstitucional e a Defensoria Social vai usar de todas as armas para
derrubá-la. As autorizações para reúso destas areias,
inclusive as concedidas pela FATMA, também derivam de manobras das
empresas junto à Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT),
entidade esta que é formada e mantida por empresas. A ABNT 10.004, por
exemplo, sofreu uma alteração que excluiu a análise do fenol em alguns
procedimentos de avaliação, desde a lixiviacão, especialmente para
testes em laboratório. Tudo porque custa caro dar a destinação correta
dos resíduos industriais gerados pelas fundições. Enfrento um grave quadro de saúde, mas as ameaças e perseguições que
venho sofrendo são mais perigosas. O livro “O Gigante Acuado” do
jornalista Altamir Andrade conta uma parte da minha história que
transcorre ao longo de quase duas décadas, desde que o então menor
jornal do Brasil, O Vizinho, editado por ele, em Joinville, iniciou uma
série de investigações jornalísticas sobre os crimes praticados pela
Tupy, a maior fundição do mundo. Isto também lhe rendeu ameaças,
pressões e um estrangulamento econômico, afinal essa é uma das armas
mais eficientes para silenciar a imprensa e mutilar a liberdade de
expressão. Este caso de crime continuado da Tupy será um
dos principais temas a serem levados pelos movimentos populares,
comunitários e sindicais ao Tribunal Social Internacional (TSI) que se
reunirá no Rio de Janeiro em 2016. Faremos um novo tempo com paz e
sustentabilidade, mas sem tolerância à violência dos poderosos e seus
cultos ao descartável. Se eu não puder, peço ao jornalista Altamir
Andrade e aos meus companheiros que continuem nossa luta.
Aproveitamos para reafirmar que em solenidade pública realizada no dia
10 de dezembro de 2012 (Dia Internacional dos Direitos Humanos) na
Câmara de Vereadores de Joinville, o jornalista Altamir Andrade, eleito
em 2011, pela ONU, “Parceiro da Paz e da Sustentabilidade”, foi
empossado Procurador Regional Sul da Defensoria Social. A
DEFENSORIA SOCIAL, Seção Brasileira da Agência Latinoamericana para el
Desarrollo Sostenible (ALADES.ORG) é um colegiado de instituições de
caráter ecumênico, fundada em 2004 como GESTO CONCRETO da Campanha da
Fraternidade, com apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB) e Conselho Nacional das Igrejas Cristãs no Brasil (CONIC),
dedicada à defesa da sociedade em demandas sociais e coletivas, em prol
da PAZ e SUSTENTABILIDADE como direitos fundamentais das presentes e
futuras gerações, tendo em seu Conselho Deliberativo com sede em
Brasília - DF, representantes do Ministério Público Federal, Delegacia
de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente e o Patrimônio Histórico da
Polícia Federal, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ),
Cáritas Brasileira e Movimento GRITO DAS ÁGUAS. Com uma
estrutura similar à dos Ministérios Públicos mantém uma Procuradoria
Geral com sede em Curitiba - PR e Procuradorias Regionais em todas as
regiões do país, inclusive no sul do país, bem como Delegacias
(estaduais e locais) que atuam com foco na proteção de biomas naturais
ameaçados, recebendo denúncias, instaurando procedimentos
investigatórios, realizando perícias de forma a dar o melhor
encaminhamento possível nas esferas administrativas e judiciárias em
instâncias locais, regionais, nacionais e internacionais tendo como
fundamento para sua ação a promoção da CIDADANIA ATIVA como ferramenta
para a conquista da JUSTIÇA SOCIAl e AMBIENTAL.
Respeitosamente,
Leonardo Aguiar Morelli – Secretário Geral da Defensoria Social Fonte: http://diariocatarinense.clicrbs.com.br