Enquanto falam em trem-bala para a Copa, outros transportes empacam |
Imagine
uma orquestra em que cada músico toca sua própria música, em seu
próprio ritmo, ignorando a presença do maestro. Assim é hoje a logística
nacional, conduzida por vários maestros que não se harmonizam,
não seguem qualquer partitura, improvisando a cada instante. Em vez de
música para os ouvidos, um caos de dissonâncias que perturba a todos,
inclusive os estrangeiros, que no início deste ano começaram a se retirar da sala desse concerto desconcertado. Em outras palavras, o escoamento da safra de grãos no começo de 2013 foi literalmente um caos,
com filas quilométricas de caminhões parados nos acessos ao porto de
Santos, criando problemas de segurança pública, paralisando as
atividades urbanas na Baixada Santista e prejudicando a economia
nacional, pois a confusão repercutiu até no outro lado do planeta: os
chineses cancelaram várias importações, diante da incapacidade do Brasil
de cumprir os acordos comerciais firmados, quanto aos prazos de
entrega.
Para
evitar a repetição do filme, e já prevendo que um novo recorde será
batido em termos de produção agrícola - com um crescimento de 11% em
relação à safra anterior -, o governo federal quer enfim afinar a
orquestra, procurando fazer por meio de um pacote de medidas tudo o que
esta coluna vinha preconizando há muito tempo: sincronizar o acesso de
caminhões e navios ao porto santista, por meio de um sistema de agendamento, que já tem até nome: PortoLog.
Indicamos nestas colunas
até um modelo para essa sincronização, testado no porto de Paranaguá.
Os caminhoneiros permanecem em pátios especiais distantes do porto e são
avisados até por mensagens curtas (SMS) nos celulares, ou pela
Internet, sobre o momento de completar a viagem rumo ao porto. Um
sistema simples, de baixo custo e rápida implantação, requerendo mais
boa vontade do que significativos investimentos em tecnologia ou
infraestrutura.
Em
Santos, depois das pressões de várias prefeituras, cobrando soluções
para o caos nas estradas, a Codesp também começou a pressionar os
terminais retroportuários para que se organizem melhor, formando um
grupo de coordenação, além de obter da União uma área para funcionar
como um pulmão extra de estacionamento dos caminhões.
O
que com boa vontade já poderia ter ocorrido em safras anteriores agora
terá de ocorrer por determinação federal. Terá? Sempre ficam as dúvidas,
que só o tempo responderá.
Mas
os planos oficiais (oficialmente denominados PortoLog, e apelidados de
Pacote Antifila) não param aí: estão previstas também obras na ferrovia
que liga Rondonópolis/MT ao porto de Santos, para aumentar já em 2014 a
velocidade dos trens, que hoje demoram 80 horas para fazer o percurso.
Tudo bem, no papel, mas o histórico das atividades ferroviárias recentes
no país permite levantar sérias dúvidas, não só quanto ao prazo, mas
quanto à qualidade do trabalho resultante, ainda mais premido pela
urgência atropeladora de prazos e normas de segurança. Se em velocidade menor já são constantes os descarrilamentos e outros acidentes…
Nos próximos meses, saberemos que movimentos esta afinada orquestra executará, na sinfonia das exportações… Allegro com fuoco? Ou Andante moderato?
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